sábado, 2 de abril de 2011

Falando de charge

Que notas são estas?

            Nesta semana recebi um e-mail em que havia uma charge onde apareciam duas cenas. Numa delas, em 1969, os pais cobravam do filho as notas baixas recebidas em seu boletim, na frente da professora. E na outra, em 2009, os pais e o filho, alterados, cobravam da professora as notas baixas do menino. Na charge podemos fazer inúmeros questionamentos, mas ela retrata muito bem como anda o relacionamento entre alunos, professores e pais atualmente. A relação em sala de aula está no limite, passando do racional para o crítico, e isso já faz um bom tempo. Tanto é verdade que agressões são vistas quase que diariamente na imprensa, para espanto de quem há muito passou desta fase do “jogo”.
            Mas o que está havendo, afinal? Parece que as pessoas perderam o rumo, a razão, a compostura e a vergonha na cara. E a relação professor-aluno que sempre se teve em aula, desde o jardim da infância até a universidade, onde foi parar? Por que as pessoas estão com os nervos à flor da pele? Por que nossos professores, que têm a maravilhosa tarefa de repassar conhecimentos, de uma hora para outra viraram profissionais sem importância e pessoas desrespeitadas? Este país precisa valorizar o professor e a educação.
            No meu tempo de escola – primário e secundário – o tratamento era bem outro. Os alunos respeitavam seus professores pelo seu conhecimento, saber, postura, conduta e cobrança vigorosa e também os temiam pelos castigos que recebiam quando se “passavam” em aula com o mestre ou com os colegas ou ainda com a matéria, a organização do material e o uniforme. Havia castigo, mas tudo aprovado pelos pais que sabiam que aquilo servia para manter o filho no caminho desejado. Naquele tempo eram os pais que educavam os filhos e os professores apenas cuidavam do seu ensinamento. Não era como hoje quando boa parte dos pais manda seus filhos para a escola para ter um pouco de “sossego” em casa e transferir a educação destes, que seria sua, aos professores, como se estes não tivessem seus próprios problemas para resolver no seu dia a dia. Professor também é um ser humano e ninguém percebe isto.
            Hoje, é normal vermos aluno debochando do seu professor e desrespeitando-o em sala de aula, assim como seus colegas. “Até agressão física acontece durante as aulas. Até revólver vai à escola”. E quando um professor chama a atenção do aluno com a postura que o cargo exige este sofre ameaças de agressão e até de denúncia no Conselho Tutelar, isso quando não é agredido e humilhado. É incrível, mas parece que a própria Justiça está contra o professor, contra a educação. Se o aluno chega atrasado à escola e é naturalmente barrado, o pai ameaça diretor e funcionários e ainda ameaça ir ao Ministério Público. Hoje, qualquer ‘casinho’ vira um casão de polícia e de Justiça e para a indenização é um pulinho. A coisa fugiu ao controle. E quando um professor cobra atitude de seus alunos, como boas notas e participação e obriga-se a colocar nota vermelha no seu boletim, vêm os pais e o massacram publicamente. Já testemunhei isso. Existe professor estressado em sala de aula, sim, mas existe também aluno muito mal educado que os pais acham que é um exemplo. Que ensinamento nós estamos passando a esta geração que está se formando aí? E o que ela fará quando estiver à frente do mundo decidindo seus rumos? É um problemão que muito em breve estará aí, para não dizer que é uma bomba-relógio com timer programado para explodir. A juventude atual, que convive com agressões e pressões diárias dentro e fora de casa, por não ter limites, deve achar que isso tudo é normal e que é permitido sair por aí batendo e ofendendo as pessoas. Não é assim. “Onde não há disciplina não há nada”, ensina a ética.
            Na novela Caminho das Índias, da Globo, teve uma cena que é muito triste, mas que acontece muito nos dias atuais. É aquela em que o pai está criando um marginal dentro de casa e não está vendo isso. O rapaz, sem nenhum limite, faz e acontece com todo mundo e o “babaca” do pai acha tudo muito bonito. E ainda dá força e protege o “traste” do filho. Quando vejo aquela cena dá vontade de entrar na televisão para espancar os caras. São pessoas assim, incentivadas pelos familiares ou criadas no meio da violência, que saem de casa achando que tudo podem, esquecendo que lá fora existem regras a ser cumpridas e também conseqüências. O aluno precisa entender que o mundo é cruel, a realidade é dura e que precisa se adaptar às circunstâncias e não o contrário.
            É. O mundo mudou muito nestas últimas décadas e a charge que recebi mostra que estamos iniciando um novo tempo, repleto de incertezas e de preocupação, o pior ainda estar por vir. Sabemos que ele virá, mas não sabemos como terminará. E como ficará o mundo neste período todo? E as pessoas? Alguém arrisca um palpite quando estamos criando em casa pessoas sem noção e sem limite? A cena retratada na charge acima mostra também a falta de compromisso dos pais na vida escolar dos seus filhos (as), talvez a falta de um diálogo maior entre pais e professores. Os pais devem ser os responsáveis também pela educação dos seus filhos. Isto não é só tarefa da escola.



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